sexta-feira

OS ESTILOS MOBILIÁRIOS


Em todos os povos os impulsos de modelação estética se exteriorizaram primeiramente nas criações destinadas ao lar, bem como nos objetos de uso cotidiano. Com os progressos da civilização e o consequente aumento das exigências da vida, a modelação desses objetos assumiu feição de uma arte propriamente dita. Mas é principalmente nas obras do culto religioso que as criações artísticas dos povos civilizados apresentam maior perfeição.
Chamamos de estilo a um conjunto de normas artísticas resultantes de concepções morais e religiosas, de exigências da vida e de possibilidades técnicas. Naturalmente se pode também chamar de estilo a uma orientação particular dada por muitos artistas às suas criações. Os estilos  históricos, que aqui serão examinados em breve estudo, refletem as tendências comuns nas criações artísticas de uma
determinada época.



ANTIGÜIDADE
Arte Egípcia (cerca de 3 000—1 000 a.C).
A arte egípcia serviu quase que exclusivamente ao culto religioso. Seus monumentos mais importantes são os túmulos reais ou pirâmides. Os templos, com as suas numerosas colunas bem proporcionadas, foram edificados de maneira grandiosa e monumental.
A rica ornamentação simbólica de todas as partes arquitetônicas era caracterizada pela folha e flor de loto. Também o disco solar encontrava muita aplicação. A escultura tinha um campo de atividade fecunda na confecção de estátuas gigantescas e na rica ornamentação de relevo das paredes. Mas as pinturas murais policromáticas mostram o completo desconhecimento da arte de representação perspectívica.
Os móveis egípcios, cujas formas nos foram transmitidas principalmente pelas pinturas murais dos túmulos, deixam reconhecer um grande desenvolvimento técnico. No tada -mente os móveis de assento apresentam já todas as formas usuais.


Arte asiática.
Os  babilônios e assírios, já 3 000—600 a.C, acusavam notável desenvolvimento em suas criações artísticas, que apresentam muitas semelhanças com a arte egípcia.
A arte persa remonta a 600—300 a.C, representando o estilo arquitetônico uma mistura dos estilos assírio, egípcio, grego e hindu.
Também a  arte hindu ou indiana esteve quase que exclusivamente a serviço do culto religioso. Aproximadamente 500 a.C. chegou ela a estabelecer um estilo uniforme e autônomo.
Os chineses souberam conservar a forma primitiva de sua arte de 3 000 a.C. até aos nossos dias.
A arte japonesa é, sob muitos aspectos, superior à chinesa e também se conservou de 1 000 a.C. até hoje.

Arte Grega (cerca de 600—300 a.C).
A arte grega é a mais sublime da Antigüidade. Suas obras mais importantes resultaram das construções de templos. Atribuíam os gregos aos seus deuses olímpicos o grau máximo de beleza da forma humana. Daí por que os artistas gregos lhes construíam as moradas do melhor material possível e em linhas harmônicas apuradas ao máximo.
Distinguem-se três tipos colunares na arte arquitetônica grega: odórico, o jônico e o coríntio. Para a decoração ornamental empregavam-se  principalmente faixas entrançadas, tais como meandros, faixas onduladas, faixas de antêmio e de folhas de acanto. O mobiliário, do mesmo modo que a arquitetura profana, só em épocas posteriores experimentou maior desenvolvimento.

Arte Romana (cerca de 100 a.C—400 d.C).
A arquitetura romana adotou muitas formas das artes etrusca e grega, mas em parte as levou a um alto grau de aperfeiçoamento. O estilo profano passa mais para o primeiro plano. Há grande riqueza monumental, sendo desenvolvido um novo estilo colunar, o chamado de ordem compósita.
A decoração interna mostra nos planos murais reproduções das formas arquitetônicas externas em mármore ou em estuque, e, nos tetos, divisões em campos ou quadriculadas com representações ornamentais ou figuradas. O ornamento como decoração chega a   empregado em muito maior escala do que entre os gregos, sendo usadas mais freqüentemente as folhas de acanto, de louro, de hera, de parreira, pinhas, etc.
O mobiliário apresenta nos períodos avançados grande variedade. De modo geral é mais suntuoso que o grego.
Desenvolvimento extraordinário experimentou a mesa, que, com o correr do tempo, se tornou móvel suntuoso, feito de bronze e mármore.



IDADE MÉDIA
Arte Bizantina e cristã primitiva (cerca de 100—700 d.C).
A princípio a arte cristã primitiva empregava as formas romanas, mas, com a expansão do Cristianismo, desenvolveu uma forma autônoma. Como os templos serviam de locais de eunião para a comunidade, o peso da decoração artística foi transferido para a parte interna. Com a divisão do Império Romano num Império Ocidental e outro Oriental (395 d.C), desenvolveu-se em Constantinopla, capital recém-criada deste último, nova corrente artística, geralmente conhecida pelo no de Bizantina. A arquitetura é extraordinariamente suntuosa, empregando materiais preciosos.
Na Rússia, por influências orientais e asiáticas, adotou o estilo bizantino um cunho próprio.
Arte Islâmica (cerca de 700 d.C).
A difusão da doutrina maometana pelos países árabes trouxe, também, uma nova orientação estilística, patenteada principalmentenas decorações internas. O estilo islâmico é um estilo arquitetônico sobremodo decorativo. A profissão artística atinge grande florescimento.
Na Espanha desenvolve-se, sob o domínio dos mouros (séculos XIII-XV), o estilo geralmente conhecido como Mourisco (Alhambra ou Granada).
Estilo Romântico (cerca de 800—1 200 d.C).
Graças ao Cristianismo os povos cristãos desenvolveram uma atividade cultural uniforme, da qual viria surgir uma nova corrente artística. As artes plásticas começaram a exteriorizar um estilo que dentro em pouco nada mais tinha de comum com o estilo antigo. Além de igrejas e mosteiros, foram construídos nesse estilo também burgos e fortificações urbanas. No tocante às igrejas, constitui inovação importante a localização das torres no corpo do edifício.
A ornamentação emprega formas estilizadas de plantas, frisos com faixas e perfis entrelaçados, figuras humanas e animais de conteúdo simbólico.
O mobiliário ainda continua modesto e tosco, apresentando pesadas guarnições de ferro, e sendo antes trabalho de artesão do que de marceneiro. Nos móveis de assento, há muitas vezes trabalhos feitos ao torno. Móveis mais ricos são encontrados nas igrejas e nos mosteiros.
Estilo Gótico (1 200—1 400 d.C).
Teve sua origem em França e se difundiu rapidamente por todos os países da Europa. A revolução de idéias, o progresso da civilização e o conseqüente aumento das exigências da vida acarretaram uma profunda modificação nas produções artísticas. Até então eram os mosteiros as escolas competentes para ministrar o ensino das Belas- Artes, ao passo que agora esse ensino é colocado gradativamente ao alcance da massa do povo.
A modelação estética da moradia adquire importância cada vez maior. O acabamento interior dos aposentos é ajustado às exigências crescentes da época, o que dá a todos os artesãos oportunidade para mostrarem suas habilidades. Firma-se particularmente o prestígio da escultura em madeira. O móvel do tipo armário ganha crescente importância e como novo móvel surge o bufete. Característicos típicos do Estilo Gótico são os pilares envolvidos por feixes de colunas, as abóbadas ogivais, as janelas góticas com ornamentações feitas segundo motivos puramente geométricos, os trabalhos de entalhe, as gárgulas desenvolvidas em fantásticas figuras humanas e animais, as rosetas, os perfis costais e em cinturão, a rigorosa estilização da ornamentação folhada, entrelaçada.
A decoração interna e da mobília toma extraordinário incremento, tendendo à confecção de móveis luxuosos. Mobiliário particularmente suntuoso é encontrado nas velhas igrejas e catedrais góticas, mas trata-se menos de trabalhos de marceneiro do que de escultura em madeira.



ÉPOCA MODERNA
Estilo Renascença (cerca de 1 400—1 600 d.C).
A nova corrente artística originou-se na Itália, onde atingiu o seu desenvolvimento máximo, e muito em breve influenciou a vida espiritual de todos os povos civilizados. Seus motivos de exteriorização inspiravam-se nos inesgotáveis modelos da Antigüidade Clássica, mas os arquitetos daqueles tempos, entre os quais se encontravam gigantescas personalidades artísticas, acabaram criando um estilo completamente autônomo. Como artista mais genial daqueles tempos, merece ser citado Michelangelo Buonaroti.
Nos diferentes países europeus, a Renascença adotou particularidades inerentes a cada um dos povos. Exigências maiores são estabelecidas ao conforto domiciliar. O aposento de morada recebe decoração que melhor atenda à comodidade. E essas tendências renovadoras não se mostram apenas nos palácios, mas também nas
residências burguesas e proletárias. O mobiliário é finamente apurado eprovido de rico trabalho de entalhe.
Uma técnica nova, vinda da Itália, o trabalho de marchetaria em mosaico, consistente no embutimento de madeiras de diferentes cores, chega a alto grau de florescimento.
Na Itália, a época do Renascimento Primitivo é chamada de Quatrocentos (Quattrocento), e o Renascimento Tardio de Quinhentos  (Cinquecento).

Na França, recebeu a Renascença os nomes dos vários soberanos reinantes na época. Assim, o Renascimento Primitivo foi denominado de Luís XII e Francisco I; o apogeu do Renascimento, de Henrique II, Francisco II, Carlos II, Henrique III, Henrique V, e o Renascimento Tardio de Luís XIII.
Na Inglaterra, o Renascimento Primitivo tornou-se conhecido como Estilo Tudor, Elisabete ou Isabeliano, e ainda apresenta ricos detalhes góticos; o apogeu, como Estilo Jacó, e o Renascimento Tardio, como transição ao Barroco, William e Mary.


Estilo Barroco (1 500—1 750).
Os impulsos de nova e mais livre exteriorização artística provêm novamente da Itália, mas esta, em meados do século XVII, tem de entregar a liderança da grande arte à França. O Estilo Barroco, por muitos também chamado de Jesuítico, atingiu florescimento máximo nos países de religião católica. São características as formas arredondadas e as linhas marcantes. O desenvolvimento dos detalhes é extraordinariamente rico e exuberante nos palácios e castelos.
A suntuosidade da decoração interna ultrapassa em muito a da arquitetura externa. Poderosas pilastras coroadas de capitéis ricamentedesenvolvidos sustentam volumosas cornijas sobre as quais repousa o teto, na maioria das vezes em forma de abóbada cilíndrica.
Particularmente típicas são as amplas cimalhas com pujantes frontões.
Os móveis de assento almofadado tiveram especial desenvolvimento e difusão. Destacada importância adquire a cômoda. A marchetaria  mosaico, ao invés de empregar madeira recorre a outros materiais: marfim, madrepérola, metal, placas de porcelana, tartaruga, etc.
Em França, os vários períodos do Estilo Barroco receberam os nomes dos soberanos então reinantes; Luís XIII e Luís IV, o mesmo sucedendo na Inglaterra, onde se distinguem os estilos Queen Anne e Georgian.


Estilo Rococó (1 700—1 800).
O Rococó não é propriamente estilo arquitetônico, e sim, estilo de decoração interna originado em França, como evolução do Barroco. A ornamentação tornou-se mais graciosa e elegante, sendo conteúdo do estilo e organismo autônomo em que se perdem todos os motivos arquitetônicos. O mobiliário é leve e gracioso, havendo grande preferência para as pequenas poltronas de assento e espaldar almofadados. Merecem ser citadas especialmente as cômodas e escrivaninhas com os seus ricos trabalhos de entalhe, de marchetaria, e de ornamentação a bronze.
Na Inglaterra, Thomas Chippendale (1730—1780), emancipando-se da influência francesa, criou grande número de móveis primorosos, finamente detalhados.
O Rococó, espalhando-se em toda a Europa, estava em seu auge na época do rei francês Luís XV, mas não teve muita duração, o estilo tornou-se mais simples, retilíneo, mostrando rigorosa tendência classicista; o novo estilo atingiu o apogeu do florescimento durante o reinado de Luís XVI e ficou conhecido sob o nome dele. A ornamentação, ao lado das formas de arte antiga, é constituída por feixes rígidos de louro, grinaldas de rosas suspensas por laços e fitas  soltas, medalhões redondos e ovais ornados de palmas, e urnas envoltas em crepe. Também folhas de hera e de parreira encontraram grande aplicação. Exerceram influência decisiva sobre o desenvolvimento mobiliário a Marquesa de Pompadour, Madame
Dubarry e Maria Antonieta. A marchetaria passa a ocupar novamente posição dominante na arte mobiliária.
Na Inglaterra, desenvolveram-se por essa época três estilos:Adam, Hepplewhite e Sheraton, que apresentam acentuadas  características nacionais.

Estilo Império (fins do século XVIII—princípios do século XIX).

Com o advento de Napoleão I, abriu-se à Arte uma nova época, apoiada ainda mais rigorosamente em modelos gregos e romanos. Há, também, emprego de detalhes de arte egípcia. A impressão objetiva é sobremodo sóbria. Em sua maioria, os móveis são de mogno com aplicações de bronze dourado, e suas formas arquitetônicas lembram a Arte Antiga em desenvolvimento rígido, com finalidades puramente utilitárias. Mas existem, também, tipos mobiliários que, apesar de suas formas simples, são de aspecto muito gracioso.



Arte Moderna.
época subseqüente não trouxe, até fins do século XIX, nova  rientação à Arte. Ao contrário, houve até uma paralisação como ainda não tinha havido. A imitação superficial de estilos de épocas passadas, a associação dos característicos mais evidentes desses estilos e o seu emprego desordenado em edificações e mobiliários, conduziram com excessiva freqüência a deturpações de mau gosto. Os estilos "vendáveis" ou, melhor, "industriais", mudavam como a moda. Com o desenvolvimento da técnica e da industrialização, não só se abastardou cada vez mais a marcenaria, como ainda — o que é de consequências muito piores — perdeu-se grande parte do gosto da massa do povo. Não havia coordenação do senso estético, e faltava toda e qualquer orientação espiritual.
Só pelos fins do século XIX fizeram sentir-se, com intensidade crescente, esforços de reforma e de oposição franca às concepções artísticas vigentes. Paralelamente com o incremento da industrialização e da técnica, também a arte arquitetônica se viu em face de novas exigências que, obviamente teriam de conduzir a novos ensaios artísticos. Muitas correntes artísticas se sucederam deste então, havendo algumas delas trilhado caminhos extremos na procura de novos modelos, ao passo que outras se esforçaram por encontrar o
"leitmotiv" na tradição mais rara da arte de cada povo.
O desenvolvimento geral da expressão artística moderna tende cada vez mais à exigência da forma utilitária ideal, sendo esta confeccionada com material escolhido, desenvolvendo os detalhes técnicos como ornamentação, e eliminando tudo o que é orgânico.
É bem possível que ainda decorra longo tempo até que as criações artísticas modernas atinjam a pureza, autonomia e validade universal dos estilos históricos.

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